10 dezembro 2013
06 dezembro 2013
19 novembro 2013
Ao acordar lembrei-me de Peter Doyle. Deviam ser seis horas, na austrália em frente um pássaro cantava. Não vou jurar que cantasse em inglês, só os pássaros de Virgínia Woolf têm privilégios assim, mas o júbilo do meu pisco trouxe-me à memória a cotovia dos prados americanos e o rosto friorento do jovem irlandês, que naquele inverno Walt Whitman amou, sentado ao fundo da taberna, esfregando as mãos, junto ao calor do fogão.
Abri a janela, na escassa claridade que se aproximava procurei, em vão, a delícia sem mácula que me despertara. Mas de repente, uma, duas, três vezes, ouviram-se uns trinadinhos molhados, a indicar-me um sopro de penas que mal se distinguia da folhagem. Então, invocando antiquíssimas metáforas do canto, peguei no livro venerando que tinha à mão e, de estrofe em estrofe, fui abrindo as represas às águas do ser, como quem se prepara para voar.
Eugénio de Andrade . “Walt Whitman e os Pássaros”
17 outubro 2013
14 outubro 2013
12 outubro 2013
06 outubro 2013
Deito-me tarde
Espero por uma espécie de silêncio
Que nunca chega cedo
Espero a atenção a concentração da hora tardia
Ardente e nua
É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho
É então que se vê o desenho do vazio
É então que se vê subitamente
A nossa própria mão poisada sobre a mesa
É então que se vê passar o silêncio
Navegação antiquíssima e solene
Sophia Mello Breyner
03 outubro 2013
26 setembro 2013
12 setembro 2013
15 agosto 2013
08 agosto 2013
16 junho 2013
29 maio 2013
28 maio 2013
27 março 2013
19 março 2013
06 março 2013
25 fevereiro 2013
11 fevereiro 2013
Tivemos um notável crepúsculo certa tarde do último Novembro. Eu vagueava por um campo, fonte de um pequeno riacho, quando o sol finalmente atingiu um estrato isolado no horizonte, isto num dia frio e cinzento e justamente momentos antes de pôr-se — e a mais branda e brilhante luz solar desencadeou-se sobre a relva seca, sobre os troncos das árvores do horizonte oposto e sobre as folhas dos arbustos de carvalhos da colina, enquanto as nossas sombras alongadas se projectaram no campo em direcção de leste, como se fôramos os únicos obstáculos aos seus raios. Tal era a luz que momentos antes não a poderíamos ter imaginado e a atmosfera também era tão morna e serena que nada faltava para que do prado se fizesse o paraíso. Quando reflectimos que aquele não era um fenómeno isolado que nunca mais se repetisse, mas que aconteceria sempre num infinito número de tardes, e que embalaria a mais tardia criança que lá aparecesse, o espectáculo tornou-se ainda mais glorioso.
H. D. Thoreau . em "Caminhar"
01 fevereiro 2013
30 janeiro 2013
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