24 dezembro 2012

Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça.

21 dezembro 2012

(...)
E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste, 
Onde a minha saudade a Cor se trava?... 

Mário de Sá-Carneiro . do poema "Último Soneto"

19 dezembro 2012

Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam.

Mário de Sá-Carneiro . Cartas a Fernando Pessoa

14 dezembro 2012


Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.

Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.

Porém nem nas marés, nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.

E devagar tornei-me transparente
Como morte nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.

Sophia de Mello Breyner . "Soneto de Eurydice"

11 dezembro 2012


Reler-me é sempre um medo que me enche de prazer.

Al Berto, DIÁRIOS, Assírio&Alvim, 2012

06 dezembro 2012


e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

Al Berto